A visita | Histórias para reflexão

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Em uma tarde de inverno rigoroso, Julia saiu de sua casa e foi verificar se havia alguma correspondência em sua caixa de correio. E lá estava apenas uma carta. Ela, então, a pegou, mas, antes de abri-la, parou para observar com mais atenção. No envelope não havia selo nem a marca do correio, somente seu nome e endereço. Ela voltou para dentro de casa e decidiu ler a carta:


_ Querida Julia. Na noite do próximo sábado, estarei próximo de sua casa e passarei para fazer uma visita a você. Com amor, Jesus.


Mal terminou de ler aquelas palavras e Julia começou a tremer. Suas mãos suavam frio. Ela dizia a si mesma:


_ Por que Jesus viria aqui em casa me fazer uma visita? O que Ele quer comigo?


Tensa com a visita, Julia se lembrou de que sua dispensa estava vazia. Desde que o seu marido Carlos havia morrido, ela se mantinha apenas com uma pensão de um salário mínimo.


_ Ai, meu Deus! E agora? Jesus vem aqui em casa e eu não tenho nada para oferecer a Ele. Vou ter que ir ao mercado comprar alguma coisa para o jantar.


Julia revirou a carteira e uma gaveta onde costumava guardar uns trocados. Ao somar tudo o que tinha, percebeu que aquele valor era muito pequeno, suficiente apenas para comprar uns três pães e alguma outra coisa.


No sábado da visita, Julia vestiu seu casaco e se apressou para ir ao mercado. Pegou dois pães, 100 gramas de mortadela e uma garrafa de leite. Ela passou no caixa e, depois de pagar, viu que havia lhe sobrado apenas algumas moedas, que deveriam durar até o início da próxima semana, data de recebimento da pensão. Ainda assim, se sentiu feliz e voltou para casa com a humilde compra em uma sacola. No caminho de volta, ela ouviu uma voz:


_ Boa tarde, senhora. Pode nos ajudar?


Julia estava tão distraída pensando no visitante que chegaria em sua casa em poucas horas, que mal percebeu que um casal estava em pé ao seu lado. Seus semblantes eram tristes e eles pareciam sentir muito frio - afinal, vestiam calças rasgadas e camisas surradas. O homem disse:


_ Minha senhora, eu estou desempregado. Minha esposa e eu temos morado debaixo daquela ponte ali, pois fomos despejados de nossa antiga casa. Está fazendo muito frio e estamos com fome. Se a senhora pudesse nos ajudar, nós dois ficaríamos muito gratos.


Julia olhou para o casal com compaixão. Eles se encolhiam de frio e, provavelmente, vergonha. Com pesar, ela respondeu:


_ Eu gostaria muito de poder ajudar vocês, mas eu mesma sou uma mulher muito pobre. Tudo o que tenho nessa sacola são dois pães, um pouco de mortadela e uma garrafa de leite. Só que vou receber uma visita muito importante nesta noite e estava pensando em serviu isso no jantar.


O homem, então, respondeu:


_ Eu lhe entendo perfeitamente, senhora. De qualquer forma, muito obrigado pela atenção. Que Deus te abençoe.


O pobre casal se abraçou e seguiu rumo à ponte que lhes servia como morada. Ao vê-los indo embora, Julia sentiu algo muito forte tocar o seu coração.


_ Esperem! Gritou ela.


O homem e a mulher pararam e voltaram à medida que Julia corria para alcançá-los. Estendendo a mãos com a sacola de compras, ela disse-lhes:


_ Fiquem com tudo isso.


Ao que o homem questionou:


_ E como fica a sua vista, madame?


_ Eu vou dar um jeito. Não se preocupem com isso. Comam e bebam! Disse, Julia.


Quando a mulher estendeu a mão para pegar a sacola, Julia notou que ela tremia de frio. Então, desabotoou o casaco e colocou sobre os ombros dela.


_ Tome, pode ficar com ele. Eu tenho outro em minha casa.


E o casal se despediu:


_ Muito obrigado, senhora. Muito obrigado mesmo. A senhora não tem ideia do bem que fez.


Com um sorriso no rosto e os braços cruzados para se proteger do frio, Julia voltou sem nada para servir a Jesus. Quando chegou na porta de casa, notou que havia outra carta na caixa de correio. Ela pensou:


_ Que coisa estranha, o carteiro não trabalha nos sábados!


Ela pegou a carta e abriu. Ao ler, começou a rir e chorar, ao mesmo tempo. Estava escrito:


_ Querida Julia, foi muito bom te ver novamente. Obrigado pelo delicioso sanduíche de mortadela e pelo casaco. Com amor, Jesus.


"’Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’. Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?’ O Rei responderá: ‘Digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram’" (Mateus 25:35-40).


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