Policarpo - O homem que morreu glorificando a Deus
por: Antonio Júnior
Você já deve ter ouvido falar das histórias dos mártires da Igreja. Homens e mulheres cristãos que morreram por não renunciarem sua fé em Jesus Cristo. Até hoje milhares de cristãos morrem nos países onde é proibido pregar o Evangelho de Cristo e na maioria das vezes nem ficamos sabendo disso. Graças a Deus que no Brasil ainda podemos falar do amor de Deus com liberdade. Que possamos aproveitar esta oportunidade e vivermos o Evangelho com responsabilidade. Abaixo está a história de um guerreiro da fé, que em momento algum pensou em abandonar o Senhor Jesus. Que você seja inspirado por esse testemunho maravilhoso!
"Jesus disse: quem me confessar diante dos homens, também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus. Mas aquele que me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus." (Lucas 12:8-9)
A carruagem feita de grades cruzava as ruas de pedra de Esmirna e o prisioneiro podia ouvir gritos da furiosa multidão que estava na arena. Cães farejadores seguiam o carro pelas ruas, latindo violentamente. Crianças de pele clara corriam pelas calçadas, com os olhos cheios de ansiedade. Ao longo do caminho, rostos sem nome paravam para espiar pela janela. A carruagem se deteve diante dos sólidos muros da arena. O guarda arrancou o prisioneiro do veículo e o lançou bruscamente ao chão, como se fosse um saco de lixo, machucando sua perna. Há semanas o público vinha pedindo a prisão e execução daquele homem. Mas ele não se parecia em nada com um criminoso - um homem idoso e de aparência frágil, com o rosto marcado pelas rugas. Tinha cabelos e barba tão brancos quanto as nuvens que enfeitavam o céu naquela tarde. Enquanto o velho prisioneiro mancava até a arena sob a vigilância de guardas armados, espalhou-se pela multidão a notícia de que aquele homem era Policarpo, o criminoso vil que tinha sido sentenciado à morte. Seu crime? Ele era líder local de um ritual supersticioso praticado por um grupo conhecido como "os cristãos".
A multidão gritava com sede de sangue, enquanto os soldados levavam o prisioneiro para se apresentar diante do procônsul romano. Quando ele viu o velho mancando, ficou com vergonha. Então aquele era o grande criminoso que havia causado tanto tumulto? Apenas um pobre velhinho? O procônsul usava uma túnica cor de púrpura, que balançava com o vento. Ele se aproximou do velhinho e lhe disse em particular:_ O governo romano não faz guerra contra idosos. Simplesmente jure pela divindade de César e deixarei você ir.
_ Não posso fazer isso.
_ Então, ao menos grite: "Acabem com os ateus!" E isso será suficiente.
Ele disse isso porque muitos romanos acreditavam que os cristãos eram ateus, já que eles não tinham templos nem adoravam imagens. O prisioneiro calmamente esticou seu braço enrugado, virou-se e apontou para a multidão cheia de ódio. Então, olhando fixamente para os céus, gritou:
_ Acabem com os ateus!
A reação do prisioneiro surpreendeu o procônsul. Apesar de o velhote ter feito o que lhe fora pedido, o governador percebeu, pela reação da multidão, que a libertação de Policarpo estava fora de cogitação.
_ Amaldiçoe a Jesus Cristo! - Exigiu ele.
Por um instante Policarpo fixou seus penetrantes olhos castanhos no semblante inflexível do procônsul. Então, respondeu calmamente:
_ Durante oitenta e seis anos tenho servido a Jesus e Ele nunca foi injusto comigo. Como, então, poderia eu amaldiçoar meu Rei e Salvador?
A multidão, incapaz de ouvir a conversa, estava ficando impaciente com a demora. O procônsul já estava ficando ansioso e pediu novamente ao prisioneiro:
_ Jure pela divindade de César!
_ Já que o senhor continua fingindo não saber o que eu sou, vou simplificar sua tarefa. Declaro, sem nenhuma vergonha, que sou cristão. Se o senhor quiser aprender um pouco sobre as nossas crenças, marque um horário e eu lhe ensinarei.
O procônsul ficou muito irritado e respondeu bruscamente:
_ Não tente me convencer, convença a eles! - Disse apontando para a multidão.
Policarpo olhou para os inúmeros rostos desconhecidos, que ansiavam pelo espetáculo sanguinolento a que vieram assistir.
_ Não, não vou rebaixar os ensinamentos de Jesus tentando convencer essa gente!
O procônsul já muito irado, gritou:
_ Você não sabe que tenho animais selvagens a minha disposição? Vou soltá-los imediatamente se você não se arrepender!
_ Bem, então solte! - Respondeu Policarpo, sem qualquer vestígio de medo na voz. _Como eu poderia me arrepender de fazer o bem para fazer o mal?
O procônsul estava acostumado a amedrontar até os criminosos mais perigosos, mas não estava conseguindo assustar aquele velhote. Então replicou:
_ Já que os animais selvagens não lhe assustam, saiba que você será queimado vivo se não renunciar a Jesus Cristo imediatamente!
Cheio do Espírito Santo, Policarpo irradiava alegria e confiança.
O senhor me ameaça com um simples fogo que queima por uma hora e depois se apaga. Nunca ouviu falar do fogo do julgamento vindouro e do castigo eterno reservados para os ímpios? Por que está demorando tanto? Faça logo o que quiser comigo!
As coisas não saíram como o planejado. O procônsul deveria ser o grande vencedor e o prisioneiro deveria estar ajoelhado, implorando por misericórdia. Mas aquele prisioneiro, um idoso, havia vencido. O governador voltou ao seu assento, sentindo-se humilhado. Como a arena era muito grande, alguns mensageiros foram enviados a pontos específicos para anunciar o que Policarpo havia dito. Quando repetiram o que ele havia declarado, uma onda de fúria tomou conta da multidão. Fariam com ele o que eles quisessem!
Pularam de seus assentos e correram pela saídas e corredores, clamando pela morte de Policarpo. Corriam como loucos pelas ruas da cidade, juntando todos os pedaços de madeira que pudessem encontrar. Assaltaram alguns estabelecimentos e roubaram até a lenha acumulada nos banheiros públicos. Então, voltaram apressados para a arena, com os braços cheios de lenha para a pira que o carrasco estava preparando. Eles empilharam a madeira em volta de uma estaca, onde os soldados amarravam os membros de Policarpo. Mas Policarpo dizia calmamente aos soldados:
Deixem-me como estou. Aquele que me dá força para suportar o fogo também me dará capacidade para ficar imóvel na fogueira sem que precisem me amarrar.
Depois de permitir que Policarpo orasse, os soldados atearam fogo à pira. O fogo de Esmirna acreditava que depois de queimar Policarpo apagaria seu nome da história, dando um fim àquela odiada superstição chamada cristianismo. Mas assim como o procônsul, eles subestimaram a vitalidade e a convicção dos cristãos. Pois em vez de intimidar os outros cristãos, a morte de Policarpo lhe trouxe inspiração. E em vez de desaparecer, o cristianismo cresceu ainda mais.
Ironicamente, o que os romanos não conseguiram fazer acabou sendo realizado pelos próprios cristãos. Hoje, praticamente ninguém conhece as histórias dos mártires de Jesus, como Policarpo, e o cristianismo verdadeiro tem sido apagado e esquecido pelos próprios cristãos.
Retirado do livro: Que falem os primeiros cristãos